15.10.17

Página.

Obrigado. Obrigado a você que nem me conhece, mas me deu um bom dia educado e sincero na portaria do prédio. Obrigado a você por ter sido cordial comigo, sempre tirando as minhas dúvidas e inseguranças com um sorriso afável estampado no rosto. Obrigado a você por ter me mostrado uma música boa, num momento em que eu precisava extravasar minha mente cansada e frustrada sob uma forma ritmada musical.

Obrigado a você por ter me convidado para um evento simplesmente porque queria a minha companhia. Obrigado por ter me presenteado com um meneio de cabeça, quase imperceptível, mas que demonstrava atenção e afeto. Obrigado por suportar minhas afobações, bobagens, infantilidades e incertezas, sempre com tranquilidade. Obrigado por ter me incentivado a crescer, viver e amadurecer.

Obrigado pelas palavras duras, que me fizeram chorar, mas me deixaram mais sábio. Obrigado pelas palavras suaves, que me fizeram sorrir, e me deixaram mais tranquilo. Obrigado por ser visceral e amigável nos momentos certos. Obrigado por marcar presença, por me fazer não querer a sua ausência e por deixar saudade em momentos cuja ausência é inevitável.

Obrigado por ter me marcado. Por meio de atitudes e palavras tortas, intencionais ou não, o engrandecimento foi inevitável. Apesar disso, obrigado  por ter sido  uma pessoa tão boa e memorável em certos aspectos. Obrigado por ser uma pessoa tão cirúrgica em suas palavras, atitudes e desejos.

Mas, mais do que tudo isso, obrigado por ter feito parte da minha construção humana, tenha você participado dela por anos, dias ou segundos.

Obrigado a você por existir.

27.8.17

Autorretrato.

Passaram-se alguns dias, semanas, meses. Nesse tempo, sorrisos eram demonstrados, mas apenas como movimentos fúteis e irrisórios; eles teimavam em não vir do fundo da alma, e objetivavam apenas mascarar um conflito interno incessante. Meu esboço de movimento facial aparecia para mentir ao mundo que eu estava satisfeito e tranquilo, enquanto, por dentro, meus demônios me atormentavam e me tiravam o sono. Literalmente.

Ah, esses demônios. Insistiam em reaparecer em momentos inconvenientes, sem razão de ser, de maneiras inusitadas, sem direito a aviso prévio. Ora me calavam, ora faziam verter lágrimas involuntárias, ora simplesmente me tiravam do eixo de equilíbrio. Demônios antigos, matutos, espertos, que sabem os exatos pontos nos quais a estrutura emocional e pessoal é fraca, aonde exatamente ela se apoia.

E finalmente, após sacrifícios pessoais que ocorreram em vão, entendi. Nada disso possuía razão de ser. O sorriso prévio, que vinha apenas para sacramentar o meu conflito, precisaria vir para refletir ao mundo que ainda há vontade de seguir em frente. Os demônios que me atormentam, apesar de serem inseparáveis de mim, não precisam trabalhar como "seres" que me prendem à inércia de uma vida repetitiva e paranoica. Eu possuo a opção de enxergar o copo meio vazio da mesma forma que possuo a opção de enxergá-lo meio cheio. Me rendo ao clichê, mas digo que isso tudo é apenas "uma questão de pontos de vista".

E finalmente, finalmente, um sorriso sincero, transparente, desnudo. Aliviado.

9.7.17

Razão.

Quem é você?

Você não é o seu nome. Você não é a sua aparência. Você não é as roupas que você veste, as pessoas com quem você anda, o celular que você possui. 

Talvez você não seja ninguém. Talvez ninguém se importe. Talvez ninguém queira saber sobre o que se passa em sua mente conturbada e fora do eixo. Talvez ninguém saiba que você existe. E, talvez, mas somente talvez, uma pessoa aparecerá como uma luz no fim do túnel, e te estenderá a mão.

E aí, talvez, você deixará de ser ninguém, e poderá ser alguém. Ainda assim, alguém que luta diariamente consigo mesmo, com os seus medos, inseguranças, temores e pesadelos. Alguém que quer chorar, esbravejar, gritar e libertar todos os demônios, mas sequer sabe quais são realmente esses demônios. 

E assim somos. Não sabemos quem somos, já que somos uma mistura indescritível de sentimentos impossíveis de serem racionalizados. Não sabemos quem somos, pois não sabemos se somos pessoas boas ou ruins. Não sabemos quem somos, pois a confusão existencial pertence apenas a nós mesmos.

Ao mesmo tempo, somos tudo e nada. Ao mesmo tempo, estamos no céu e no inferno. Ao mesmo tempo, sorrimos e choramos. Ao mesmo tempo, somos apenas mais um em meio a uma coleção de "ninguéns", clamando por ajuda.

O que é você? 

4.6.17

Pontos de vista.

Acordo. Abro os olhos e, repentinamente, por eles escorrem algumas poucas lágrimas. Entretanto, estas não são de tristeza ou descontentamento; muito pelo contrário: ao mesmo tempo, sorrio. Sorrio de orelha a orelha, por um motivo que entenderia apenas alguns minutos depois.

Me sento na cama. Continuo sorrindo, ainda sem entender o porquê, mas a sensação que permanece é a de uma plenitude, tranquilidade, suavidade, nunca antes sentida. Como que num estalar de dedos, percebo o motivo desta espontaneidade: me sinto feliz pelo simples fato de estar vivo.

Percebo, agora,  o quão importante eu sou para mim mesmo. Entendo que não preciso sofrer, e que devo agradecer a cada segundo pela vida. Compreendo que, apesar dos altos e baixos, a vida deve ser celebrada por si só, sem que existam motivos especiais para tal.

A partir de então, comecei a enxergar o copo ‘meio vazio’ como ‘meio cheio’. Decepções e fracassos estão aí, permeando a nossa existência, mas não devem norteá-la. Viver em detrimento daquilo que faz mal tem o poder de agravar a insanidade, mas agradecer por tudo que há de melhor traz ao rosto sorrisos sinceros, e lágrimas de felicidade.

O sofrimento existe, é cotidiano, recorrente, repentino. E, por conta dele, a satisfação de estar vivo e poder aproveitar tudo de agradável que a mera existência pode trazer fica adormecida, latente, morta. Uma demonstração muscular, quase que espasmódica, que vem da alma, e reflete a pureza da existência, insiste em ser demonstrado através dos lábios; e, quando vem, afasta todo o desgosto para longe.

O sofrimento é válido e, em alguns casos, até necessário. Necessário para que, a partir dele, nos reergamos e nos tornemos pessoas melhores e mais fortes. Mas a sua persistência nos torna quebrados, sem nexo, sem razão para estarmos vivos.


E, às vezes, um mero sorriso é capaz de nos trazer de volta ao conforto da vida.

29.5.17

Especial.

Não é tão simples assim. Entre o 8 e o 80, existem algumas várias possibilidades. Essa trajetória não é matemática pura; é uma mistura de sensações, obstáculos, altos, baixos e mais baixos ainda. E, a cada dia, uma nova surpresa vem à tona. E, à cada surpresa, uma superação, e consequentemente, me fortaleço. 

Soma-se, a isso tudo, o fator existencial. O "eu" frágil, inquieto, repleto de dúvidas, ansioso por respostas mas desprovido de questões, enfrenta diariamente provações e percalços. Esse "eu" quebrado insiste em se quebrar ainda mais, para que possa juntar os estilhaços e formar um novo "Eu", agora com E maiúsculo, melhor e mais vívido, suave, em paz consigo mesmo.

E esse "eu" se questiona diariamente: o que o torna diferente dos outros? O que o faz sentir bem consigo mesmo? O que o faz sentir especial? E a resposta sempre se manteve bem na sua frente. O fato de poder fazer bem, arrancar sorrisos, estar presente, e ser importante para alguém, mesmo que seja por poucos momentos, o torna especial. O simples fato de acordar e ter forças para seguir em frente o torna especial. O fato de fazer a diferença para alguém o torna especial.

O fato de estar vivo o torna especial.

1.5.17

Lampejo.

E aí, como quem não quer nada, a felicidade aparece. Ainda não sei bem explicar o porquê, mas ela veio, em forma de paz de espírito, de plenitude, de tranquilidade. Como um sopro, resultante de três ou quatro atitudes visualmente sem significado, advindo de uma virtude velada, que doeu para aparecer, mas veio à tona de uma maneira sutil e incrivelmente reveladora. Como um medo superado, que foi posto à prova de uma forma cruel e excruciante. Como um sorriso a mim direcionado, cujo sentimento foi transmitido pelo olhar.

Quem diria. Um dia, julguei estar no fundo do poço, e não achava que veria a luz tão cedo. No outro, estou resgatado, e retorno, mais forte do que nunca. Sorrio, de alegria e satisfação. Me seguro, pois toda essa felicidade se esforça para escorrer pelos meus olhos, que ficam marejados em momentos... inconvenientes. Por fim, me sinto completo. Aprendi que não há necessidade de esconder o que se passa em minha mente, e que não há medo que possa me impedir de crescer como ser humano. Aprendi que, mesmo em meio a todo o caos existencial que em mim persiste, há um lampejo de tranquilidade e paz.

Aprendi que a felicidade é um estado de espírito. E que pode ser permanente.

13.4.17

Existencial.

Desabo.

Desabo de joelhos no chão e, sem motivo aparente, lágrimas teimam em escorrer pelos meus olhos. A sensação é como se um peso infindável que esmagava as minhas costas tivesse magicamente desaparecido. Como se, por um segundo, apenas durante esse segundo, todas as preocupações presentes em minha vida deixassem de existir.

Choro, e ao mesmo tempo, sorrio. Um sorriso bobo, espasmódico, assimétrico e quase que imperceptível. Mas que, ainda assim, traduz a tranquilidade da minha alma naquele momento. Minha existência, durante um piscar de olhos, deixou de estar em crise, e acabei me deixando levar pela mais plena sensação de bem estar que senti ao longo de anos. Uma sensação ímpar, irretocável, singular.

Me levanto. Percebo que, durante o período em que estive de joelhos, roguei para que aquele momento de lucidez existencial e serenidade se prolongasse por anos a fio. Que se tornasse uma constante. Que a vida deixasse de ser uma senoide de emoções, e se transformasse numa eterna... paz. 

Que a vida se tornasse prazerosa de ser vivida.